quarta-feira, 17 de junho de 2009

Malas às Costas I





Os quatro meses e meio que passei em terras de Vera Cruz, encheram-me de inúmeras experiências que me parecem interessantes, ao ponto de sentir que as devo partilhar…

Após o principal propósito estar cumprido, ou seja, quando entrei de férias, resolvi comprar uma mala de viagem estilo campista, e parti à aventura durante o máximo de dias possíveis. Deixei na casa alugada no centro de Florianópolis os meus colegas da faculdade (portugueses, claro) e parti. Sozinha.
“Metro e meio de gente” nestas andanças num terceiro mundo... Só há uma afirmação a dizer: “Tão destemida quanto ingénua”. Nada mais explica tamanho comportamento idiota.
Mas quando quero fazer algo e até tenho os recursos para tal, dentro da minha cabeça só aparece a seguinte ideia... "Porque não?" E assim, de malas às costas, lá fui eu...

Queria visitar uma colega em Belo Horizonte. Deu-me direito a 22h de viagens de autocarros, e umas horas no terminal de Curitiba, para a escala. Nessa paragem, enquanto comia uma refeição barata no restaurantezito do terminal, via o noticiário que falava das enchentes que ocorriam no sul do país. Os milhares de mortos e desalojados. Cidades ficaram completamente destruídas com tamanha manifestação da natureza. Um testemunho que tinha perdido a mulher e os três filhos, dizia que só queria que Deus lhe tivesse deixado um deles como consolo.
Lembro-me de me arrepiar e me sentir egoísta por nunca ter agradecido tudo o que tenho. É bom ver notícias no Brasil, quer no Jornal, quer na Televisão… Ajuda a abrir a pestana para a vida. Apercebemo-nos ao ponto que este mundo pode chegar… (ou ainda não ultrapassou), e viver num país como Portugal, por estranho que pareça, até pode ser uma bênção.

A pobreza no Brasil, bate níveis que não lembra a ninguém que não a tenha visto! E no meio de tanto pedinte, desalojado, meninas de rua e respectivo chulo, tento passar o mais discreta (e brasileira) possível. O portátil que está dentro da minha mala, segundo colegas brasileiros, vale mais do que a minha pessoa… Mas também não tenciono tira-lo de lá, a menos que seja num local seguro. Todo o envolvimento deixa-me insegura e com um nervoso miudinho constante. Quem já passou pelo Brasil e teve a oportunidade de estar um pouco sozinho deve saber o que estou a falar. Torna-se normal andar com o passo apressado e com atenção constante…
"Just in case..."

A minha passagem em Belo Horizonte foi bastante porreira. Encontrei-me com uma antiga colega minha que está a tirar Medicina por lá. Descobriu, pelo hi5, que eu também andava pelo Brasil (Digam lá que o hi5 não consegue ser fantástico…). E pronto, de um mero acaso cria-se uma visita de 3 dias. Não a via há mais de seis anos, mas foi um reencontro bastante animado e rapidamente nos encontrámos com o à-vontade de outros tempos.

Levou-me a um “Sítio”, ou seja, uma quinta enorme que era de uma colega dela. Um casarão que para além do churrasco ainda tem direito a piscina e campo de futebol. Era uma típica churrascada de fim-de-semana, claro! Apenas para as colegas da equipa de futsal da faculdade dela e eu, como convidada, ou melhor... como colas. Felizmente a receptividade brasileira deixa-me à vontade!
Foi comer e beber à grande durante a tarde toda... Lembro-me de provar coração de galinha. Só me apeteceu vomitar, e não volto a repetir a proeza. Todos se riram na minha cara pela expressão que fiz ao mete-lo na boca…! A mim custava-me só a ideia de ter uma artéria aorta na minha boca, mas isso já são detalhes a mais para uma simples refeição. No final, de barriga demasiado cheia para a necessidade, ainda dancei ao som de música brasileira, como se gostaste tanto dela quanto as restantes pessoas que lá estavam... Consegui, com um sorrido na cara aproximar-me ao que eles chamam de sambar.

E é assim que as coisas acontecem no Brasil:
Sais de um terminal, passas por inúmeros pedintes, tentas não ficar petrificada com o nível de pobreza que te rodeia. Entras no táxi, cobram-te o triplo do preço normal, mas pagas e ficas feliz por chegar viva ao destino. No caminho olhas para uma cidade velha, suja, suada e abafada de tanto calor. Chegas a casa da tua amiga. Sentes-te segura com os três trincos na porta. Voltas a sair de casa, desta vez de carro. Vais até um sítio, que tem um bom sistema de segurança e retomas o equilíbrio de te sentires segura. Aí comes e bebes à grande. Festejas e danças, como se nada do que viste no percurso simplesmente existisse.

No mínimo, bizarro!

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