sexta-feira, 15 de maio de 2009

Prateleiras Hormonais


No meu 9º ano, decidida como sempre, no que diz respeito ao meu futuro, entrei no gabinete da Psicóloga da escola a afirmar que queria ser Professora de Ed. Física. Ainda hoje me espanto ao pensar na segurança que dizia aquilo com apenas 13 anos. Ia ser professora de Educação Física, dar aulas de dança paralelamente e sobretudo, ser feliz!
Típico da minha pessoa.
Quase aposto que imaginava isso tudo com um arco-íris como plano de fundo, e purpurinas… muitas purpurinas…. De várias cores e feitios…

Testes psicotécnicos!? Os resultados bateram totalmente ao lado.
Quarto Agrupamento. Portanto Línguas… Professora de História, Inglês ou Francês, Assistente Social e Actriz.
A Psicóloga disse que nunca lhe tinha aparecido ninguém tão convicto de algo que nos testes revelasse o extremo oposto (é que nem o agrupamento acertei...!). Sinceramente quero acreditar que isto seja visto como uma virtude e não um defeito de fabrico…
Claro está, que não seriam uns testes psicotécnicos que iriam resolver o que queria fazer da vida. Mudei de escola para o agrupamento científico–natural, tendo Desporto como opção técnica. Mais tarde dei por mim a treinar para os pré-requesitos e daí a sentar-me no anfiteatro da faculdade, foi um pulinho. Enquanto tinha aulas de disciplinas de difícil nome como cinantropometria e cinesiologia, ainda tirei um curso de dança para poder começar a dar aulas por aí em ginásios…

Hoje é o meu último dia de aulas da faculdade.
Estágio com ela… Em Setembro, seja ali na Amadora, Carcavelos ou Ilha de S. Miguel, estarei a olhar para uns quantos adolescentes idiotas que me chamarão de ‘stora…
E eu, típica estagiária, esfolar-me-ei ao máximo para compreender, ajudar e ensinar aquelas cabeças de ar, que não passam de um simples depósito hormonal desregulado. Neles não existem prateleiras ou gavetas onde se organizem tamanhas alterações e inovações.

Após todo este percurso… E agora que vivo a realidade que projectei, mais perto…
Lá está! A idade leva a que arrumemos o nosso depósito hormonal…
E quando olhamos para dentro e analisamos as várias prateleiras que se encontram minimamente arrumadas. As gavetas dos ideais sobrepostas, onde as de cima contêm assuntos de maior ênfase e as debaixo o menos essencial, mas que nunca se sabe quando o seu conteúdo será necessário e por isso não se deita fora…
A perspectiva torna-se completamente diferente…

Será que é exactamente isto que eu quero?
Na realidade, não me sinto muito satisfeita com a minha perspectiva de futuro, sobretudo neste país onde a Educação vai de mal a pior, ao ponto de haver quem se dê ao desplante de afirmar que os professores são "os inúteis mais bem pagos deste país” [Oh Miguelito, Miguelito! Se a tua mãe fosse viva, quase aposto que, muito à moda antiga, colocava um piri piri na tua boca. O Equador deve ser totalmente fruto da tua grande capacidade auto didacta…]

E é assim…
Agora lá vou eu para a faculdade, para viver o meu último dia de estudante… De hoje em diante já não há desculpas para desregulações hormonais… Olhem. Juro que tenho pena!

E, venha o que vier… hum… virá!
Não tenho a mesma capacidade de projectar seja o que for com a mesma facilidade e convicção típica, de uns belos anos atrás…
As prateleiras encheram-se, no entretanto!

1 comentário:

  1. Meu Deus, fiquei sem palavras! A 1ª vez que te vi tinhas 3 meses. A 1ª coisa que te vi fazer foi sorrir! E, acredita, ainda trago esse sorriso cá dentro. Durante os 4 anos que se seguiram tornaste-te parte de nós. De 5 passámos a 6, num piscar de olhos! "A Titi disse que esta casa tem sempre a porta aberta para mim!" E, assim, lá explicavas a razão (se é que existe razão para estas coisas) da tua presença na nossa vida! E lá foste crescendo no meio de piadas, canções do "porquinho" que foi à horta e das palermices que adoravas fazer na banheira. Pensar em ti transporta-me para as torradas molhadas no leite, para as batata-fritas compradas no Sr. Manuel, para os morangos com chantilly e, claro está, para a eterna melancia. O tempo foi passando e, apesar de, nos anos que se seguiram, não teres frequentado esta TUA casa com a mesma permanência, a verdade é que a porta continuou aberta e, de vez em quando, lá vinhas tu, de sorriso rasgado, com as amigas atrás, à procura de melancia! Como deves calcular, não dá para enunciar aqui cada momento partilhado contigo, e nem sei se a finitude das palavras permite entregar-te o meu coração tão cheio de ti! Cresceste, minha mana pequenina! E apesar de saber que te tenho, não deixo de me questionar em que momento, que eu não dei conta, te tornaste tão madura nas palavras e nos sentimentos... Sinto que me escapou qualquer coisa.
    Neste último dia nos bancos da tua faculdade (lembro-me quando entraste e o Tio A. te deu o Swatch azul!), quero pedir-te que não deixes lá o sorriso e, menos ainda, a esperança. Transforma esse último dia de escola, no primeiro dia de uma série de outros tantos. Permanece aprendiz! Permanece curiosa! E, por favor, continua a pensar dessa forma tão límpida.
    Um beijo doce!
    Noni
    (A Porta continuará aberta, como sabes...)

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